terça-feira, março 11, 2008

Reflexões (I)




Já vos aconteceu começar a escrever sem fazer a mínima ideia do que vão pôr no papel mas tendo uma frase, uma só frase que por todo o lado murmura, fala, grita? Não é o terror da folha em branco, não estou minimamente aterrorizada porque sei que seja o que for que escreva terá que, de alguma forma, ir encontrar esta frase que hoje me obceca :"Uma nesga de céu”. Não o céu todo, nem sequer o azul sem nuvens. Só um pequeno, ínfimo pedaço daquela imensidão. Não será aquilo a que todos temos direito? As vidas cinzentas do dia a dia, a monotonia que nos faz repetir os mesmos gestos às mesmas horas tapam-nos a nossa “nesga de céu”. Levantar às mesmas horas, maquinalmente cumprir a rotina diária, comer às mesmas horas, nos mesmos sítios, com as mesmas pessoas… Onde está a cor da vida? E, sobretudo, onde está o azul? Claro, escapamos de quando em vez, ou porque nos encontramos face a face com a beleza sob qualquer forma ou porque nos defrontamos com sentimentos que nos transcendem e algo acende em nós a luz que revela a paleta multicolor. Entrevemos então a nossa “nesga de céu”. Rara, preciosa. Dificilmente duradoura. Se o for, não lhe damos a importância devida. Distinguir nela o azul da harmonia e guardá-lo em nós nalgum canto escondido é a tarefa que perseguimos, por vezes uma vida inteira. As palavras trouxeram-me até aqui. Umas atrás das outras, sem nenhum caminho traçado à partida. E tal como comecei, sem destino certo, tenho que acabar. Porque nisto de entrever a “nesga de céu”, não há receitas, nem mezinhas. Muito menos sermões ou grandes dissertações. Ela está por aí. Procurem-na, que eu também o faço. Por vezes encontro-a, por vezes perco-a.

23 comentários:

Ad astra disse...

quantas...quantas vezes

Um beijinho

T S disse...

lindas palavras...amei!!!seu texto eh muito profundo
um bjo paara sua alma
ts

mena maya disse...

Maria Laura, a minha nesga de céu, encontrei-a esta semana nos sorrisos dos meus netos que vim visitar!

Interessantíssima esta tua reflexão!

Beijinho

ruth ministro disse...

Eu como ando sempre nas nuvens... :)

Beijos

CNS disse...

É isso que a escrita tem de mais belo: O (re)descobrimos em cada palavra que desenhamos a nossa "nesga de céu". Seja ela azul de fim de tarde à beira rio, seja ela de choro cor de chumbo dos dias frios de inverno

M. disse...

É mesmo assim, pois é. Gostei da tua reflexão.

M. disse...

Ah e da fotografia também gostei.

Espaços abertos.. disse...

Uma reflexão perfeita na sua totalidade.
Um texto profundo e muito sublime.
Bjs Zita

CASSIANE SCHMIDT disse...

Oi Maria Laura,

Simplesmente sem palavras para comentar este texto;
Maravilhosa reflexão; Despertar a sensibilidade para descobrir a nossa "nesga de céu" é, sem dúvida, um sobejo desafio nestes tempos de gente cega...
Abraços linda!!!!

Joana Roque Lino disse...

querida maria laura,
o sentir humano é tão igual em todos nós... :) um beijo.

Licínia Quitério disse...

Mesmo cinzenta, mesmo nublada, todos a perseguimos. Desta vez, foi ela que perseguiu o teu texto.

Beijinho.

José Louro disse...

Quando era adolescente li um livro de BD, o heroi chamava-se Jonathan, que tinha um título que nunca mais esqueci: «O Espaço Azul entre as Nuvens». Penso neste título muitas vezes em dias que estou mais em baixo. É um pouco como a tua nesga de céu.
Abraço.

hfm disse...

E tantas vezes ela se esconde dentro de nós.

Gostei da dissertação livre.

O Profeta disse...

O Sol abandonou o céu
A Lua ironiza no celeste
Soltas perversas vontades
Cruzam a tua vida agreste


Convido-te a partilhar a minha visão da forma em
como a vida às vezes é perversa para algumas mulheres…


Doce beijo

Berta Helena disse...

É mesmo para meditar. Fico feliz nos dias em que encontro a minha "nesga de céu". Nem sempre sei guardá-la, mas não desisto.
Lindo o teu texto.

Beijinhos.

Maria Dias disse...

Oi Maria Laura!

Estou aqui sob uma nesga do meu computador...rs...Sério, te escrevo por uma pequena janela q abriu do meu para o seu blog.Daí, não sei se consegui compreender direitinho o q quis dizer. Mas do q entendi eu falo q sim, já iniciei muitas escritas com só uma palavra ou frase perdidas em mim.

Apareça!

Beijos e bom fim de semana.

Manuel Veiga disse...

uma nesga do céu, por vezes é o paraíso!... quando acontece!

belíssimo texto.

Stella Nijinsky disse...

Oi ML,

Sim, já me aconteceu. Se calhar nessa frase está resumido, como acabaste de demonstrar, todo um pensamento que desenvolvemos acerca de um tema. Esse pensamente vai-se formando no nosso subconsciente, quer seja de forma propositada ou sem nos apercebermos disso. A verdade é que, quando aparece uma frase dessas que não nos larga a cabeça, é porque já temos opinião sobre a mesma, tanto que até a colocámos numa frase apenas.

E assim sendo, é como dizes!

Beijo,

Stella

ContorNUS disse...

ameiii a nesga de céu...na imensidaão do sentido das palavras

Luis Ferreira disse...

Amiga quantas e quantas vezes...

Aliás quando me envolve nos meus poemas, nem sempre sei o que será... solto ideias, frases e ás tantas estou envolvido numa paixão pelo poema.

Lindo texto

Bjs

Eu disse...

Gostei das reflexões :D

Bjinhos, e espero voltar em breve.

maria josé quintela disse...

todos merecemos uma nesga de céu.

.

mesmo que não seja azul.



um beijo.

Oliver Pickwick disse...

Prefiro perseguir "nesgas de céu". Um objetivo único é angustiante e opressor, seja ele uma religião monoteísta, ou a busca do amor perfeito.
Beijos!