quinta-feira, novembro 29, 2007

O peso da câmara




Eu passo. Pois se o dia está de sol e no parque as sombras brincam num jogo de esconde, esconde… Se ainda é o tempo destes serem os passeios felizes, expectantes… Os passeios coloridos. Eu passo e quase não reparo. Não é o tempo da dor. Já capturei outros homens, outras dores. Mas não hoje. Não aqui. Este é (já alguém o disse) um lugar de afectos.
Algo me faz parar. O peso da câmara, talvez. É terrível. Só quem o sente mesmo, sabe até onde nos condiciona. A câmara é outro par de olhos que, muitas vezes, quer ver exactamente o contrário do que nós pensamos querer. Eu paro. E a dor fica. Captada com pudor, com tristeza. Fica em mim.

11 comentários:

hfm disse...

A dupla dor.

un dress disse...

deixá-la circular...

.também doer é viver.





beijO

Berta Helena disse...

Pois, a dor fica, e uma tristeza lá no fundo difícil de apagar.
Gostei muito do teu texto.

Melga do Porto disse...

“Só quem o sente mesmo, sabe até onde nos condiciona.”
Está tudo aqui em cada ressalto de cada letra.
Cada letra que a vida juntou e formou em palavras.
Palavras que todos dizem, mas que poucos as sentem.
Só assim entendo as palavras, com sentir!
:)

Ad astra disse...

Palavras doídas...sentidas

Joana Roque Lino disse...

captura de momentos... fragmentos...

Manuel Veiga disse...

dor captada com pudor. que faz doer. sem dúvida.

um texto delicado e sensível.

grato pela partilha.

Oliver Pickwick disse...

Fotografia magnífica, Maria Laura, lembrou-me o velho Cartier Bresson e os seus instantâneos repletos de expressividade.
Aprecio a sua intimidade com a câmara, além da sensibilidade em descrever de modo tão poético o evento.
Suas palavras não "tentam", elas acompanham de fato a circunstância da imagem.
Visitei, também, o seu outro blog, o das fotografias coloridas, e o impacto visual é o mesmo. Acho que engoliu uma câmara fotográfica quando era pequena, e não foi uma qualquer, pelo calibre do seu talento, suponho que foi uma rolleiflex, ou, uma leika, igualzinha a do Cartier Bresson.
Voltarei para ver mais.
Um beijo, e tenha um ótimo fim de semana!

Anônimo disse...

Voltaste Alice???

Pepe Luigi disse...

Laura,
Espectacular a dimensão deste pequenino seu texto!

Pepe

Espaços abertos.. disse...

Espectacular a dimensão da dor retratada aqui no teu texto...entendi e senti muito bem as tuas palavras.
Bom Domingo
BJs Zita