sexta-feira, maio 30, 2008

Existem os cavalos...




É certo que existem os cavalos
tranquilos no pasto
como se toda a liberdade fosse sua.
Serão as cercas apenas fios leves
teias, carícias sobre a pele nua?
Será que imaginam felicidade
no suave vegetar das suas vidas?
Não intentam fuga ou protesto
nem se agitam em vãs tentativas,
são a simples imagem da beleza
sopro do vento na margem esquecida.
Existem dentro da minha certeza,
feitos para o voo
presos na armadilha da vida.


Janeiro 2007


[Peço desculpa pela minha falta de assiduidade nos vossos blogs. Voltarei lá para o fim da próxima semana. Lá, do outro lado, há Alegria!]

domingo, maio 25, 2008

Chuva



Sinto o cheiro da chuva nas manhãs
Ainda mal o sol se anuncia
Leio os avisos de Outono adiantado
Deixados na soleira da porta
Um murmúrio de água
Teima que é tempo de renascer
Mas os braços alongam-se no vazio
Desta chuva que molha sem lavar
Escorre nos dedos o desejo de viver

segunda-feira, maio 19, 2008

No verso da folha



Quero escrever
no verso da folha
palavra incorrecta
de sentir errado.
Virar-me do avesso
e dizer de mim
o que está calado.
Porque, de ser certa,
a frase escondida
breve se revela,
perdido o encanto
que nela habita.
E o verso falado
deixa por não dita
aquela palavra,
a tal incorrecta,
o olhar perverso
que apenas espreita
no poema escrito
na folha perfeita,
na beira do verso.


Março 2006

quinta-feira, maio 15, 2008

Desafios ou a vida em 6 palavras

A Mateso e a CNS fizeram-me um desafio que tem as seguintes regras:

São-nos pedidas seis palavras para uma “muito curta” biografia (há quem opte por um conceito) e podemos dar-lhes ênfase com uma imagem. Devemos colocar um link para quem nos desafiou e por nossa vez desafiar seis blogues, avisando-os deste mesmo convite “à valsa”. Além disso, deveremos partilhar 6 coisas que nos pareçam importantes e 6 outras de que não gostemos.

Parece simples? Eu não achei, porque isto de resumir-nos em seis palavras é extremamente complicado. Encontrei ajuda em Fernando Pessoa que, entre muitas, tem uma frase que abraço por inteiro:







"O homem é do tamanho do seu sonho."

Mais ou menos seis palavras e está (quase) tudo dito. Agora, o que é importante e o que não gosto.

É importante:

- a tolerância
- a solidariedade
- a liberdade
- a visão para lá do olhar
- a alegria
- o amor

Não gosto:

- de hipocrisia
- de arrogância
- de tirania
- de tacanhez
- de maniqueísmo
- de quem "possui" a verdade

Cumpri as regras todas, menos a de passar o desafio. Passo a todos os que ainda não tiverem dançado esta "valsa". Ora vamos lá...

domingo, maio 11, 2008

Cristal frio




As madrugadas estão prenhes
De implacável lucidez
No seu ventre adejam pássaros
De agoiro
Sem rótulo de bom ou mau
Só certezas de coisas por vir
Até ao dia em que se abatem
Na poeira que contemplo
Essa será a hora da limpidez
Do cristal frio de que me escondo
Com medo que me cegue

Preparo-me devagar
Para enfrentar o espelho
De alma sem maquilhagem

quarta-feira, maio 07, 2008

Sem ti




Sem ti
recolho-me à tela dos dias
pintados de frescura azul
mergulho na pele de mim
tecido vivo em que te cosi
te prendi.
Encontro um grito velado
escondido entre a carne
e a superfície
que enche a brandura da tarde
do cio das horas antigas
por viver.


Julho 2006

sexta-feira, maio 02, 2008

Em redor do lago Léman




As viagens têm destes paradoxos. Há países e povos pelos quais nos apaixonamos, sem nenhuma razão evidente. Existem outros pelos quais, apesar da beleza e de aparentemente terem tudo para nos encantar, não conseguimos sentir nenhuma empatia em especial. Entre lagos e montanhas, a Suíça (particularmente a Suíça romande, onde estive) parece ter tudo para cativar quem lá vai. Verdadeiramente, as terras por onde andei têm a beleza que não nega todos os bilhetes postais a que estamos habituados, mas não consegui chegar a entender aquele povo nem a sentir-lhe a “pulsação” da vida. Um estranho povo “neutro” que defende o seu não-alinhamento no meio da Europa com unhas e dentes. Uma estranha nação, que comporta num território tão pequeno, gentes de influências tão diferentes em cantões tão autónomos (sem contarmos com os imigrantes que são tantos…). Um país para ricos, onde na verdade o dinheiro e os negócios (que a neutralidade facilita) são a mola real e o custo de vida é proibitivo. Enfim, talvez eu esteja apenas a dar largas aos meus preconceitos. Talvez nunca tenha gostado da palavra “neutro”… Quem sabe? Por agora, limito-me a recordar a razão que lá me levou e a beleza daquelas paisagens que saltaram do meu imaginário para a realidade e daí para a câmara, para passarem a ser as “minhas” paisagens da Suíça.