sábado, junho 28, 2008

A cor do girassol







Fosse a vida só o que se explica
Girasse o mundo na órbita certa
Simples na frieza dos números
A cor do girassol seria só amarela
Por convenção de linguagem
Não a cor do astro que persegue
Pedaço de luz caído na terra
Leve indício duma senda de ilusão

segunda-feira, junho 23, 2008

Nestes dias




Não canto as aves verdes da manhã. Ou o sol cor de paixão pela terra. E nem o mar de que não conheço a cor, por tantas saber. Há, nestes dias, um espelho baço nos meus olhos. Nele se tolda a infinita beleza que adivinho.

quinta-feira, junho 19, 2008

Na planície dourada





O sol era um braseiro na manhã adiantada. Visto o castelo, feitas as deambulações pelas vielas de brancas paredes, o jardim chamava com promessas de sombra e descanso. Entrei, passo lesto em direcção ao muro que dava direito a uma ampla vista. A máquina pronta a disparar, pois claro. Paisagem a perder-se no horizonte longínquo convenientemente registada “para mais tarde recordar…”. E depois olhei o jardim com olhos de ver. Bonito, maneirinho. Um café, um coreto, alguns bancos à sombra e um estranho aparelho no meio, como estátua ou ornamento. Sem saber bem o que era, fotografei de vários ângulos, como convém. Sobretudo quando não se sabe bem o que é…

“Minha senhora, sabe, isso era a aguadeira daqui.”

Um dos homens sentados nos bancos tinha-se levantado e fez-se voz de recordações de tempos de meninice ou talvez até um pouco mais tarde na vida.

“Sabe a senhora que, quando não havia água canalizada, andavam com isto puxado a bois e davam água ao povo. O condutor sentava-se naquela cadeirinha, está a ver?”

Estava a ver. Daí a “aguadeira”. Percebi e agradeci-lhe ter ficado a perceber o que era “aquilo”.

“Ah, não imagina o que a rapaziada gostava quando isto andava nas ruas. É que às vezes, para sacudir os moços que se penduravam, o condutor deitava água lá por trás da maquineta. E não é que era isso mesmo que a rapaziada queria?”

E o riso do homem fez-se claro como naqueles tempos. Depois, com que envergonhado, foi dizendo:

“A senhora desculpe. Está a gostar do jardim? E aquela vista? Vi que tirou fotografias.”

Acho que o meu olhar lhe disse o quanto tinha gostado do jardim, da terra, daquela humanidade transbordante e franca. Com um sorriso meio triste rematou:

“Sabe, temos que nos entreter com qualquer coisa. Já viu, tantos velhos…”

Tinha visto, sim. Naquelas terras da planície dourada, a vida parece parar nos seus olhos. Observam o passar do tempo. Repositórios vivos duma sabedoria que com eles se perderá.

sexta-feira, junho 13, 2008

Alentejo




Nem um sonho se avista
No sopro da planície
Só a esperança da árvore
Tão verde que dói
Neste solo que abrasa
Neste ar que entontece
E o riso vermelho
Na beira da estrada
Da papoila que espera
E esmorece.