sábado, outubro 04, 2008

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Fechei a luz
Abri no escuro a caixa de Pandora
Espalhei todos os males em meu redor
Recolhi-os em mim
Restou a secura que a alma reconhece
Como um vento de deserto
E a busca da água da esperança
Renascido oásis no limite do caminho


[Há ciclos que temos que fechar. Estes dois blogs terminam hoje. É altura de voltar a uma casa que, no fundo, nunca deixei. Quem me quiser encontrar, estou num blog aqui ao lado. Não é a Internet um mundo tão grande e tão pequeno, ao mesmo tempo? Espero ver-vos por lá. Obrigada pelo apoio e carinho que me deram, aqui.]

terça-feira, setembro 30, 2008

Matemática




Acordo na hora em que a dúvida me apresenta o problema como o único som, no silêncio sem retorno. Analiticamente revejo tudo. Calculo probabilidades com o enorme bias do que desejo. Sacudo a angústia oportunista que tenta entrar na equação, mordendo por dentro nos momentos certos. Deixo que o dia entre para me atolar na certeza de que errei os cálculos em qualquer passo. Talvez me falte alguma variável. Ou apenas um valor (in)constante que introduz um desvio nos resultados. Dia após dia, refaço cálculos sem chegar a uma solução. Sempre que desisto por cansaço, o valor de X foge por entre os espaços calados. Fica um riso trocista, único valor residual que consigo alcançar.


Imagem: cortesia do Google

sexta-feira, setembro 26, 2008

Passo a passo




Descobriu um dia que se tinha exilado entre muros rendilhados. Soprava sobre ela a delicadeza da brisa do exterior e tinha a falsa noção de que seria fácil derrubar as barreiras à sua volta. Por vezes tentava. A oscilação das paredes era real mas a resistência também. Mas quão delicados eram aqueles muros! Traziam-lhe a ilusão de que todo o prazer, todo o conforto podia existir dentro deles.
Todos se perguntavam porque ficara ali, até ao momento em que a erosão desfez os muros. Ainda nesse instante se deixou ficar sentada, os braços envolvendo os joelhos, como que protegendo algum tesouro ignorado. A luz lá fora era demasiado crua, feria-lhe os olhos e a pele. Com um pedaço do muro, já quase só pó, guardado na mão, caminhou devagar para fora. E andou no caminho à sua frente. Passo a passo.

segunda-feira, setembro 22, 2008

Sei-te




Fora de mim te sei
Alma que um dia julguei minha
Morada de calma cumplicidade
Em que outrora quis ser eu
Sem falsas máscaras ou disfarces sedutores
Sei-te no silêncio ou na palavra
No dia aberto ou na noite de horas brancas
No breve toque ou na distância
Sei-te na pele
Por lá mora o teu caminho
Que afastas em cada trilho de incerteza
Orlado de nevoeiros sonhadores

Por te saber tão fora de mim
Sendo que em mim ficou a tua essência
Te chamo calada, quieta nas palavras
Até que de ti próprio sintas a ausência.