quarta-feira, fevereiro 27, 2008

O sonho



O sonho
A nuvem bailando no céu
A ave que grita o silêncio do dia
A folha da árvore que renasce no vento
No cristal de qualquer hora
Tu e eu.

domingo, fevereiro 24, 2008

Em sentido único



…e existiam as encruzilhadas. confluência de caminhos. entre eles, o que tinha que fazer seu. porque a vida não tem caminhos certos, mas faz-se em sentido único.

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Como água






Como água que corre para o mar. Solta num leito de pedras. Ora se alonga na vista de alguma paisagem, ora corre como se fosse urgente aquele diluir-se no azul infinito onde se encontram todas as águas. Sem parar, apesar das asperezas do solo que lhe serve de passagem. Como água. Líquido corpo de bruma desfeita pelo olhar do sol. E pela ternura que lhe dá o sonho de ser parte de um todo. Contornando obstáculos, alternando o olhar de melancolia com o de alegre frescura. Com a força da liberdade. Como água. Assim queria ser.


[Para responder ao carteiro, num desafio que consiste em escrever um texto que inclua doze palavras que representem algo para quem responde. Perdoem que não passe este desafio a ninguém em especial. Desafio todos os que o quiserem a pegar neste exercício, se ainda não o fizeram . Garanto que é interessante.]

domingo, fevereiro 17, 2008

Canto




Ouvi um pássaro na tarde cinzenta
Chamamento oblíquo
De dias de luz
Procurei na árvore
Bem perto
Bem longe
Tocar aquela subtil melodia
Como se fosse de madrugada
Horas em que a magia anda solta
Procurei no campo no rio no mar
Súbito cansaço trouxe-me o som
Onde sempre esteve
Sem que o entendesse
Dentro de mim, corpo alma desperta
Cantava a vida como ave liberta.

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

As palavras do dia



Às vezes acreditava no que escrevia. Outras, as palavras não faziam sentido. Rodeavam-na numa estranha dança. Ora formavam um puzzle completo, ora fugiam, trocistas, deixando buracos abertos naquela malha de ideias que lhe ocupava a mente. As palavras… Tinha com elas uma relação de amor. Ou de raiva. Não podia respirar sem as transmitir nem que fosse a um ecrã em branco, ou a uma qualquer folha de papel achada por acaso. Mas sabia a frustração de não conseguir reter em palavra escrita aquilo que os sentidos captavam. Arrumava na memória cores e sons para um dos dias libertadores de palavras. Aqueles em que conseguia fazer uma harmonia das letras que, por vezes, lhe pareciam espantadas, brancas, sem sentido. Esses eram os momentos em que as soltava para si e para quem quisesse partilhá-las. As palavras do dia.

sábado, fevereiro 09, 2008

Mil anos passados...




Disseste
Mil anos passados e aqui estamos
O aroma e a luz, os mesmos, exactos
Os olhos que se penetram
E a voz de murmúrio para dizer
Coisas guardadas no fundo de nós
Ou a gargalhada que se liberta
Num só momento único cúmplice
Mil anos passados
Lembrei-te eu
Somos os mesmos que ontem se foram
Aqui, no sítio de sempre
Que, de encanto, tem o que lhe damos
Mil anos passados
O tempo não é corcel que nos transporta
Em louca correria
Mas breve passagem não percebida
Como se fosse ontem.

Esquecemos a história daqueles tempos
Que não o foram dentro de nós
Iguais
E mil anos passados…

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Um sussurro




Traz o ar um prenúncio
Talvez apenas um sussurro
Pressentido
Pronunciado
Traz o vento a incerteza
Do que devia estar perto
Aberto
Traz a brisa um sopro de secura
Tão pura
Que as ondas que me atingem o peito
Têm em si a cor da liberdade
E encontram na lembrança que não esgota
A brancura do sal
Líquido sabor que as molha gota a gota.