quarta-feira, dezembro 26, 2007

Balanço




Balanço. Nos dias e na vida. Correm recordações como cães à solta em campo aberto. Passam depressa e não permanecem. Podem morder por dentro. Como alguns cães. Ou fazer doces afagos. Como os leais amigos. Enxoto as recordações, boas e más. Finjo que o tempo pára e volta a andar. Para um dia novo. Para um ano em branco. E tento olhar os caminhos que o balanço dos dias vai abrindo. Para mim, quero um 2008 com novas realidades, algumas esperanças. As recordações podem deitar-se a dormir. Ao som das doze badaladas.


Para vós, os votos de um 2008 pleno de desejos realizados. Não sei se algum caminho me leva para longe mas espero voltar em Janeiro…

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Natal




Ah, o Natal! Aquele tempo de luzes e brilhos, de calor dentro das casas, de famílias reunidas. A noite do amor universal. Da fartura sobre as mesas, de prendas oferecidas com amor. Ah, esse Natal idílico, sonhado... E o Natal dos crentes. Do menino que veio para nos salvar. Que nasceu na pobreza, sem maiores luzes que a tal estrela que dizem ter aparecido, sem maior calor que o de uma vaca e de um burro. Sim, depois aparecem os reis magos e as coisas começam a brilhar… Ah, o Natal dos que perdemos e que naquela noite estavam tão próximos! Dos que estão sós, tão sós que nem se querem lembrar que é Natal. Dos que têm fome e frio e nem um abrigo. Dos que morrem nessa noite, nesse dia, e todas as noites e todos os dias nas guerras deste mundo. Ah, o Natal de todos nós!



Feliz Natal para todos os que por aqui passam!

sexta-feira, dezembro 14, 2007

Mais um dia...




Mais um dia
tão igual e tão diverso
um início de esperança.
Restos de canções de outrora
estão nos barulhos da casa
e um sorriso novo
talvez…
Um aroma conhecido
sai dos cantos das paredes
entra em círculos na memória.
Passam as horas
plenas de rara doçura
no frio há uma gruta quente
um abrigo
neste dia tão igual
e em tudo tão diferente.

sábado, dezembro 08, 2007

Seja o mar verde...




Espero aves azul esperança
Não verdes
Só por teimosia talvez
Quero que venham do lado do mar
Poisar doçuras no meu ouvido
Seja então o mar verde
Ecoando a canção bem ao longe
Levando consigo a bruma de pedra
Que hoje me envolve.
Eu oiço o aviso
Quando houver lágrimas
Nos meus olhos sem brilho
E algum tom dourado aparecer
Sentirei
Outra vez.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Baça imagem




Ainda me lembro dos teus olhos
Mas sinto-lhes um véu de mágoa
De espessura crescente
Como se os dias tivessem que ser
O caminho que se toma sem escolha.
Ainda me lembro da voz
Mas acrescento-lhe um timbre de tristeza
E nada nela corresponde
Ao que ecoava a minha gargalhada.
Talvez me engane
E tudo em ti seja igual
Pode a diferença estar em mim
Por não conhecer o que é real em ti.
Nego que olhos, voz e sorriso são os mesmos
Apenas não se reflectem em mim
Nego a mágoa minha
E a tristeza aninha-se
No timbre em que a minha voz te fala
Talvez esteja a pensar em ti o espelho de mim
Aquilo que é já só baça imagem.

quinta-feira, novembro 29, 2007

O peso da câmara




Eu passo. Pois se o dia está de sol e no parque as sombras brincam num jogo de esconde, esconde… Se ainda é o tempo destes serem os passeios felizes, expectantes… Os passeios coloridos. Eu passo e quase não reparo. Não é o tempo da dor. Já capturei outros homens, outras dores. Mas não hoje. Não aqui. Este é (já alguém o disse) um lugar de afectos.
Algo me faz parar. O peso da câmara, talvez. É terrível. Só quem o sente mesmo, sabe até onde nos condiciona. A câmara é outro par de olhos que, muitas vezes, quer ver exactamente o contrário do que nós pensamos querer. Eu paro. E a dor fica. Captada com pudor, com tristeza. Fica em mim.

segunda-feira, novembro 26, 2007

No oceano inicial




Hei-de partir num veleiro
Em dia de luz nublada
Sem destino além do mar sonhado.
Sei que para lá do horizonte
Se escondem longas terras obscuras
Onde as águas têm cor desconhecida.
Tudo o que quero é navegar
Em azuis verdes de arco-íris
Do oceano inicial
Que um dia foi prometido
Pedaço de ser feliz onde desejo voltar.

sexta-feira, novembro 23, 2007

Água



Corre água, corre e lava o que a tempestade deixou. Eu sei: o céu ainda tem a cor que prenuncia dias de angústia. Mas não é a vida esta mescla de risos e lágrimas? Podemos renunciar a uma parte dela? Podemos vivê-la pela metade? Então corre água, que a lama tem que ser lavada. Para que o sol possa brilhar em dias limpos. E possamos olhar um horizonte que, talvez em breve, se torne negro outra vez. Quem conhece o futuro que faremos? Quem sabe daquele que não depende de nós? Então, vem água. Dou-te o corpo, o rosto, a alma. Escorre-me nas mãos. Lava tudo. Leva tudo o que for necessário. Mas põe sorrisos de sol nos rostos que iluminam o caminho que escolhi.

quarta-feira, novembro 21, 2007

Árido caminho




Dou passos ainda incertos
Num caminho de árvores despidas
De onde caiu o dourado do Outono.
Penso em escondidos segredos
Tranquilos degredos
Onde as sombras se encobrem.
Mas há no sol um teimar tão constante
Que nas mãos se esconde
E as leva a abrir a porta cerrada
De algum deserto inquietante.

domingo, novembro 18, 2007

Por cima das águas



É por cima das águas que canta o som líquido de um pássaro que um dia ouvi. Parece que o mar cala o seu ruído profundo para fazer pairar à minha volta esse canto. Por trás dos meus olhos fechados, passam os dias que já não quero recordar. Vejo o mundo antigo a preto e branco. Sépia, às vezes. Sei que existiam cores. Vivas cores. Talvez o pássaro se cale e deixe o mar falar. Em palavras de azul.

sexta-feira, novembro 16, 2007

Um dia...




Vai haver um dia amor
Em que vou morrer dentro do teu peito
Como um sonho longínquo
De que não te recordas.
Em mim baterão os sinos dessa morte
Que já espero.
Deixarei voar o pássaro da dúvida
Ficando só a cor negra
Serei eu e o pátio sombrio
Donde pouco a pouco a tua lembrança
Se desvanece.